Thursday, May 31, 2007

ASTRONOMIA PRÉ-HISTÓRICA

Desde tempos antigos o homem olhou o céu.
A história da Astronomia está intimamente ligada à história do próprio Homo Sapiens, enquanto espécie capaz de estruturar sociedades e de construir conhecimento a partir da transmissão de informação de geração para geração.
O céu, para as sociedades primitivas de todo o Mundo, constituía um importante recurso cultural. Os comerciantes marítimos navegavam pelas estrelas, as comunidades agrícolas usavam-nas para saber quando deviam semear as suas culturas, coligavam determinados objectos celestes a eventos cíclicos, associando estes quer a entidades terrenas como divinas.
Existem alguns exemplos em que é clara a integração dos objectos celestes em culturas pré-históricas. Por exemplo, foram encontradas máscaras em que é clara a integração de elementos celestes nas mesmas; esse tipo de motivos continua patente em muitas tribos primitivas actuais .

A contemplação do céu também permitiu ao homem primitivo reconhecer a existência de fenómenos que, repetindo-se com suficiente regularidade, lhe possibilitaram estabelecer padrões naturais de tempo: a sucessão dos dias e das noites, e noutra escala, as fases da lua foram talvez as regularidades mais óbvias.
Desde a antiguidade, o céu vem sendo usado como mapa, calendário e relógio. Os registos astronómicos mais antigos devem-se aos chineses, babilónios, assírios e egípcios. Naquela época, os astros eram estudados com objectivos práticos, como medir a passagem do tempo (fazer calendários) para prever a melhor época para a plantação e colheita, ou com objectivos mais relacionados à astrologia, como fazer previsões do futuro, já que, não tendo qualquer conhecimento das leis da natureza (física), acreditavam que os deuses do céu tinham o poder da colheita, da chuva e mesmo da vida.


Evidencia-se de que conhecimentos astronómicos muito antigos foram deixados na forma de monumentos, como o de Newgrange, construído em 3200 a.C. (Figura 2).
Figura 2 – Newgrange. No solstício de Inverno o sol ilumina o corredor e a câmara central.

Ao longo da Europa existem restos megalíticos, construídos nos terceiro e segundo milénios antes de Cristo, que contêm alinhamentos que foram elaborados por razões astronómicas.
O alinhamento de Stonehenge (Figura 3) ao meio-dia do solstício é talvez a maior manifestação da Astronomia dos nossos antepassados.
Não é provável, apesar da precisão que se verifica com certos acontecimento astronómicas, que Stonehenge tenha funcionado como observatório astronómico, no sentido actual do termo, sendo mais provável que tenha sido um local de culto para rituais pagãos ligados a esses mesmos acontecimentos. O eixo do alinhamento de Stonehenge encontra-se na direcção do nascer-do-sol no solstício de Inverno, e em direcção ao pôr-do-sol no solstício de Verão.




Figura 3 – Stonehenge. Cada pedra pesa em média 26 ton. A avenida principal que parte do centro da monumento aponta para o local no horizonte em que o Sol nasce no dia mais longo do verão (solstício). Nessa estrutura, algumas pedras estão alinhadas com o nascer e o pôr-do-sol no início do verão e do Inverno.



Elementos megalíticos deste tipo são comuns na Grã-Bretanha, encontrando-se os círculos exteriores constituídos por 27 ou 28 pedras, que representam a duração do ciclo lunar. A Figura 4 representa uma reconstituição de Stonhenge, considerado como círculo de pedras estruturado de forma padrão.
Figura 4 – Reconstituição do que terá sido o aspecto de Stonehenge no segundo milénio a.C.



Em Portugal, existe um monumento megalítico deste tipo, próximo de Évora: o Cromeleque dos Almendres. Este constitui a maior planta neolítica da Península Ibérica, com 92 menires parcialmente trabalhados formando círculos e alinhamentos relacionados com efemérides astronómicas.

Figura 5 – Cromeleque de Almendres.


Os povos da Antiguidade rapidamente se aperceberam da vantagem de agrupar as estrelas em constelações[T1] , o que permitia identificá-las posteriormente com maior facilidade. As posições relativas das estrelas sugeriram-lhes figuras no céu que, com grande imaginação, foram associadas a representações de animais, heróis e outras figuras lendárias, que ainda hoje restam vestígios nos nomes actuais de muitas constelações. Também os planetas, sem excepção, receberam nomes de antigos deuses, tradição que chegou aos nossos dias. Estes grupos de estrelas, tal como os restantes, não pareciam mudar de forma com a passagem do tempo e foram as primeiras constelações que o Homem imaginou.
Observando sistematicamente o céu, o Homem aprendeu prever as estações, a contar a passagem dos anos e a situar os acontecimentos no tempo.
É certo que alguns acontecimentos raros, como os eclipses e as passagens dos cometas, pareciam perturbar esta ordem natural e eram, por isso, muitas vezes tomado como ameaças dos deuses descontentes com os homens.
Assim, alguns povos desenvolveram calendários e conseguiam prever alguns eclipses e até posições aproximadas dos planetas (os cinco planetas observáveis à vista desmarcada (Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno) são conhecidos desde há milénios. O seu movimento em relação às estrelas foi detectado desde a mais remota antiguidade).
Estas tentativas de explicação desempenharam para os primitivos um papel semelhante á nossa curiosidade científica.
A crescente confiança nas regularidades observadas e nos benefícios escolhidos fomentou a cumulação de registos e observações. Como resultado, e ao longo dos séculos, foram feitas previsões cada vez mais rigorosas e antecipadas. Houve também algumas modificações – por vezes drásticas – na maneira como o Homem foi encarado no Universo. No entanto, e para além dessas modificações, as regularidades da natureza foram e são o suporte da ciência e da base da confiança que nela depositamos.


[T1]As maiorias das constelações do hemisfério norte são conhecidas desde a Antiguidade. Pensa-se actualmente que foi na Mesopotânea, cerca de 5000 a.C., que essa sistematização do estudo do céu se iniciou.

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