Thursday, May 31, 2007

Astronomia na Idade Média

ASTRONOMIA ÁRABE NA IDADE MÉDIA

Tal como os cristãos dependem dos astros para a determinação da Páscoa, também os árabes dependeram das datas astronómicas para definir as suas cinco horas de oração diárias, para definir a direcção de Meca e o seu calendário lunar.
Entre os séculos IX e XII surgiram e desenvolveram-se três grandes centros de Astronomia árabes.
O primeiro foi na região de Bagdad, onde a "Casa da Sabedoria" criada pelos Califas Abbasid encorajou o desenvolvimento da Ciência como uma forma de louvar a Alá, tendo tido institutos em mais de um local.
O segundo centro de investigação islâmico surgiu no Cairo. Para além do mapeamento do céu, o Cairo distinguiu-se pelo trabalho intelectual do maior físico óptico islâmico, Alhazen (986-1039). Alhazen dissecou olhos de animais e desenvolveu a teoria da formação da imagem no olho. Alhazen experimentou projecções por efeito de câmara obscura e com lentes. Estudou também a refracção atmosférica.
O terceiro centro de investigação astronómica encontrava-se no sul de Espanha. Astrónomos como Arzaquel fizeram observações inéditas e desenvolveram métodos matemáticos de cálculo das trajectórias dos planetas que foram muito além dos métodos desenvolvidos pelos gregos e por Ptolomeu.
Uma das preocupações dos árabes era o desenvolvimento de modelos matemáticos para os céus que coincidissem com os movimentos observados. O trabalho de observação nos três observatórios ao longo dos séculos serviu para acumular determinações das posições dos astros com grande precisão.


Para produzir modelos coerentes foi essencial compilar o trabalho realizado pelos três institutos. Assim, arranjaram formas apropriadas de tabelar os dados astronómicos – os "Al-manunkhs" ou almanaques – cuja estrutura ainda hoje se utiliza. Desenvolveram também a Álgebra, fizeram avanços importantes na trigonometria esférica e criaram o sistema de notação numérica que chamamos hoje numeração árabe, entre outras coisas.
Apesar dos seus avanços, os astrónomos árabes sempre trabalharam dentro da lógica geocêntrica. Fizeram-no por não verem qualquer razão pela qual o Universo Aristotélico de nove esferas não pudesse ser explicado através da Física. Afinal de contas, os corpos celestes pareciam girar à volta da Terra, e fenómenos conhecidos, como a chuva, a queda de pedra ou de projécteis, pareciam revelar que a Terra ocupava o centro do universo atraindo para si todos os corpos.
Os dados recolhidos pela vigorosa Astronomia árabe foram o suporte para as teorias elaboradas por muitos astrónomos medievais europeus.


ASTRONOMIA EUROPEIA NA IDADE MÉDIA

Normalmente é assumido que não houve nenhum desenvolvimento da Astronomia digno desse nome ao longo da Idade Média e que a Igreja perseguia todos os que tinham perspectivas pró -científicas.
No entanto, até ao século XV existe uma vasta bibliografia sobre várias áreas das ciências físicas nomeadamente, ao nível da Astronomia.
Se é verdade que a Igreja controlava a forma de pensar das pessoas através de uma interferência directa na educação das mesmas, a nível universitário (pois todos os professores universitários eram clérigos e a maioria dos estudantes eram monges, frades ou noviços de padres) era ainda assim possível uma vasta liberdade de pensamento entre os eruditos. Assim, era relativamente tolerante quando as ideias surgiam da classe erudita do clero.
Nessa época o grau académico era obtido, não através de um exame escrito, mas através de uma argumentação apresentada em defesa de um qualquer tema realizada contra os que o examinavam.
Até às primeiras consequências do caso Galileu em 1615, a Igreja não tinha qualquer política oficial em relação à Ciência.
Por volta de 380 a.C. Aristóteles havia afirmado que o Universo era imutável, sendo, consequentemente, infinitamente velho, o que de certa forma contrariava a ideia de uma criação e de um início para todas as coisas que era pressuposto pela Bíblia. No entanto, a Igreja tinha conseguido acomodar a teoria Aristotélica.
Contrariamente ao que é comum ouvir-se, não se acreditava que a Terra fosse plana, como pode ser verificado por gravuras dessa época que tentam demonstrar com clareza porque é que a Terra é redonda, com melhores ou piores argumentos.

A Astronomia medieval europeia, à imagem do que aconteceu com os árabes, não foi uma época de grandes descobertas, tendo sido sobretudo uma época de aperfeiçoamento do modelo existente e aceite. Era ideia corrente entre os astrónomos que a Terra estava imóvel no centro do Universo e como ninguém tinha razões para duvidar desta verdade fundamental do sistema geocêntrico desenvolvida por Aristóteles e Ptolomeu, a tarefa dos astrónomos era passar a informação de toda a complexidade e elegância matemática e filosófica de geração para geração. O astrónomo medieval, mais do que investigador, era um erudito.
O acumular de dados relativos ao movimento das estrelas ia, no entanto, levando a que surgissem pequenas adaptações que iam complicando o formalismo matemático. No entanto, nenhuma das soluções resolvia completamente os problemas que se iam verificando à medida que os séculos iam passando. Em particular, determinadas datas consideradas constantes como, por exemplo os equinócios e os solstícios foram-se desviando das datas previstas ao longo do tempo. Isto levou a que certas datas como a Páscoa se fossem desfasando quando se comparava a data de calendário e a data celeste (a Páscoa é determinada a partir da Lua Cheia mais próxima do equinócio da Primavera).

O Calendário Moderno que ainda hoje usamos foi autorizado pelo Papa Gregório em 1582 e que sincronizou a Páscoa com os fenómenos celestes, mas a fórmula que ele utiliza demorou séculos de observação a ser desenvolvida. O tema dos calendários será abordado adiante.
A Astronomia gozava de um lugar destacado no curriculum universitário da Idade Média, que era essencialmente constituído por quatro ciências que tomavam o nome de Quadrivium: a Astronomia, a Geometria, a Aritmética e a Música. De facto, nenhum graduado universitário podia concluir o seu grau sem ser avaliado em Astronomia.

Durante os séculos XIII e XIV foram também feitas tentativas de mecanizar o astrolábio, fazendo rodar os seus discos de estrelas de forma a reproduzir o movimento dos céus.
O resultado acabou por ser bastante diferente e resultou na invenção do relógio accionado a pesos.

Foram discutidas durante a Idade Média ideias revolucionárias que apenas foram retomadas séculos mais tarde como, por exemplo, a existência do tempo. Uma discussão comum era se o Universo divino teria tempo. O Universo divino encontrar-se-ia fora do Universo físico das esferas cristalinas, sendo perfeito e imutável. Por este motivo, o tempo não poderia existir pois o tempo implicava mutação.


Thomas Bradwardine (1290-1349) discutiu as características de um possível Universo infinito e Nicole de Oresme (c. 1320-1382) argumentou ser mais razoável que a Terra tivesse uma rotação em torno de si mesma, que a ideia de todo o Universo a rodar em torno da Terra.
Nicolas de Cusa defendeu um Universo infinito geocêntrico em que para além das esferas cristalinas haveria um Universo infinito que conteria infinitos sóis iguais ao Sol.
Apesar destas ideias controversas, nenhum destes escolásticos teve problemas com a Igreja. De facto, Thomas Bradwardine veio a ser Arcebispo da Cantuária, enquanto Nicolas de Cusa e Nicole de Oresme se tornaram Bispos

Não obstante muito ligada a um modelo geocêntrico vigente, a Astronomia medieval gozou de grande dinamismo intelectual.

De facto, à nossa latitude, se estivermos a olhar para o mar, as "Ursas" parecem girar em torno da Estrela Polar, sem nunca entrarem dentro de água, tal como diziam os gregos.
Esta lenda de grande rigor observacional é válida às latitudes da Grécia e de Roma. A Estrela Polar vai ficando mais baixa à medida que nos aproximamos do equador, deixando de haver estrelas circumpolares a essa latitude. Mas os gregos nunca foram a latitudes tão baixas, pelo que era difícil terem conhecimento desse facto.
A primeira visão do mundo terá obviamente assumido uma realidade local, isto é, que a Terra seria plana.

Os primeiros cosmólogos gregos que são conhecidos a partir de documentos escritos são da próspera ilha grega de Jónia. Anaximenes sugeria que o Sol não se punha, mas apenas era tapado por zonas mais elevadas que existiam a Norte. Claro que isto não explicava porque existia a noite cerrada.
Empédocles viria a explicar os dias e as noites através do modelo da dupla esfera. Uma esfera interior era luminosa numa metade e transparente na outra metade e dava uma volta a cada 24 horas. A outra esfera continha o firmamento visível à noite e que rodava uma vez a cada 365 dias.
Mas se a estabilidade do seu modelo da Terra não estava em dúvida, o status dos céus como um Cosmos onde prevalecia a ordem esteve em questão até que se conseguiu criar leis de movimento que conseguissem explicar os astros "errantes". Com sete pequenas excepções, os corpos celestes moviam-se de uma forma perfeitamente racional, rodando com uma regularidade extrema em torno da Terra com posições fixas, uns em relação aos outros.
Uma vez que os astros "errantes" parecem errar entre os "fixas" de noite para noite ao longo do ano, foi-lhes dado o nome de planetas (derivado do verbo grego equivalente a "errar"). Os sete "planetas" – o Sol, a Lua, Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno – moviam-se individualmente entre as fixas, com velocidades diferentes e com um movimento que aparentemente parecia aleatório, daí que se dissesse que erravam.

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